quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Numa conversa de boteco, numa rodada de conversa fiada, eis que surge mais um tema universalmente conhecido. Dieta. Não somos uma turma de modelos, nem viciados em academias, orgânicos e natureza. Somos uma turma de 30 e poucos, sem filhos, com empregos que pagam pequenos luxos, ávidos por férias e cansados da rotina do dia-a-dia. Não almejamos o estrelato, não conhecemos pessoas influentes, não ganhamos ingressos para festas promocionais. Se fossemos retratados em um filme, seríamos aquela turma de Melinda & Melinda. Somos o meio termo. Bonitinhos, simpáticos e levemente boêmios. Tenho que admitir que descrevendo assim, até eu não entendo porque diabos a gente (pelo menos a ala feminina) quer tanto emagrecer. Não vamos trocar os maridos, não vamos ganhar um papel, nossas carreiras não dependem de aparência física. A gente podia estar sorrindo e bebendo mais, inclusive.

Mas não é assim que acontece. Todas queremos calças brancas da Diesel, bundas pequenas, rostos levemente abatidos, braços finos e a alegria de acordar, tomar banho e vestir aquele jeans pequenininho, que mesmo duro da lavagem, fecha graciosamente em nossas cinturinhas. Depois ir ao trabalho, trabalhar pouco, almoçar uma boa comida, com um bom vinho. Sair de lá diretamente para um chopp geladíssimo com os amigos. Um docinho depois do almoço, uma sobremesinha depois do jantar e um nescau com misto no café da manhã.

Sonho de quem vive o pesadelo. Porque dieta é pesadelo. E não me venham dizer que não fazem dieta, ou que fazem e comem de tudo ou que pior...se reeducaram. Se fosse assim, ninguém engordava de novo, não é mesmo? O negócio é encarar a realidade cruel. Dieta sucks. Period. E chegar ao shape dos sonhos é um caminho árduo e cansativo. E nem dá pra tomar uma cervejinha pra relaxar.

terça-feira, 15 de setembro de 2009


Sempre achei a corrida um esporte muito prazeroso. Enquanto corria pensava coisas boas como minhas coxas afinando, minha barriga secando, o suor levando minhas toxinas, a respiração trazendo novos ares e expulsando antigos. Mas de uns tempos pra cá ela começou a me chatear também. Mais precisamente, durante a meia maratona do Rio de Janeiro. Como não tive disciplina para treinar para um maratona, quiçá meia-maratona, participei de uma prova menor, de 6 km, chamada Family Run. E assim foi. Uma grande família disputando uma prova de corrida. Diante daquela reunião de velhinhas de shortinho, velhinhos em ritmo acelerado, crianças dando pique, primos conversando sobre a balada da noite anterior, foi crescendo uma inquietação dentro de mim que me fez acelerar. Acelerei, acelerei e no terceiro quilômetro já estava cansada e irritada com parte da família que deixei pra traz me alcançando. Me senti um lixo. Um ente gordo e indesejado daquela família animada. Ali eu vi que ou seria uma das meninas bonitas disputando a meia-maratona, como minhas colegas do grupo, ou sairia daquela posição humilhante.


Comecei a faltar os treinos sem coragem de encerrar de vez o vínculo com os treinadores. Talvez por um sentimento de auto-preservação, talvez por gostar deles e do que eles pensam de mim. Porque meus treinadores são pessoas boas e tenho certeza que eles veem nas minhas bochechas indícios de que venho da mesma ninhagem angelical deles.


No fim das contas o que consegui foi sumir por um mês e meio, dando satisfações periódicas de que voltaria. Até que voltei, ontem.


Eles me receberam com abraços, beijos, palavras de motivação. Os colegas de corrida também se mostraram contentes e foram igualmente elegantes em não notar minhas medidas avantajadas. De repente, senti-me em casa de novo. Esqueci de mim por um momento e minha amnésia foi generosa em esquecer das minhas medidas também. Olhei pra eles, os novos acontecimentos, as mudanças, os acertos para um breve futuro, as novas corridas, um mundo vivendo em paralelo. Vivi nesse mundo a ponto de esquecer do meu. Embora de volta a ele agora, ficou o registro da felicidade quente, das afinidades sem sentido e de que tudo é sim, uma questão de perspectiva. Mesmo desajeitada, ainda parte da mesma família.

domingo, 13 de setembro de 2009


Ontem iniciei minha dieta rumo aos 67 quilos. Para isso, juntei-me ao grupo dos seguidores dos Vigilantes do Peso. Tenho que admitir que essa idéia e extremante controversa para mim. Toda aquela abordagem, a participação do público, a linguagem apelativa...aquilo tudo me irrita demais.


Após preencher a inscrição fui me pesar. Susto a parte, já que não esperava que o problema fosse daquele tamanho, sentei-me numa das cadeiras do fundo da sala. Todas as da frente, seguidas pelas quatro primeiras fileiras estavam praticamente ocupadas. Pelo visto as pessoas não temem o chamado da orientadora para uma participação. E foi assim que aconteceu. A orientadora explicava que devemos estar atentos ao conceito dos pontos diários. Que às vezes, a pessoa concentra os pontos em carboidratos, proteínas, ou uma medida desequilibrada de tudo e não emagrece. Os nutrientes devem ser lembrados. A maneira como a orientadora falou era bem parecida com a que os pastores falam com os fiéis. Ameaçando devagarzinho e com um sorriso nos lábios. Bem, isso eu já imaginava. Não sou tola de achar que se eu usar meus pontos em chocolates diários irei me sentir bem. Mas eis que uma discípula ergue a mão e dá seu depoimento. Segundo a mocinha, que já devia ter perdido uns quilinhos e só toma a cervejinha dela depois do dia de pesagem, ela viu em uma revista um absurdo. A atriz Carolina Dieckmann disse que fazia a dieta dos pontos e se quisesse comia uma panela de brigadeiro e não engordava. Sim, nada mais justo. Mas não foi isso que a platéia pensou. Um remelexo ouriçado começou dentre as velhinhas, donas de casa, gordinhas jovens, gordonas coroas, senhores barrigudos e a orientadora. Uns diziam que não deviam te-la explicado a dieta corretamente, outros que isso não devia ser publicado pois influenciava toda a sociedade (brigadeiro...tenham em mente) até que a orientadora aumentou o tom de voz e disse a seguinte pérola: “Gente, esses globaaaaais (assim mesmo, irritada e alongando as vogais em ironia), esses artistas, não são que nem a gente. Não são normaaais. Eles fazem tudo para emagrecer e mil tratamentos de beleza. Isso tá certo, minha gente? Não!!! A dieta do vigilante (sic) é completa. E uma vez vigilante?”E toda a platéia, menos eu e um gordinho roqueiro e razinza, respondeu: “Sempre vigilante!!!”

Só pude pensar: “O que é que eu to fazendo aqui?” Mas me recompus e achei a resposta. Apesar de tudo isso, aquela organização me ajuda a não sair da linha. Algumas coisas ditas num tom a mais dos pastores é realmente verdade e emagrecer sem compartilhar daquela loucura, mas estando nela ao “meu jeito”, me dá a sensação deliciosa da vitória.

Por isso entendo os crentes.

Parafraseando a ilustre orientadora: “A gente fica por aqui. Aleluia!!!!”

sábado, 12 de setembro de 2009

O início

Esse é um diário mal humorado de uma gordinha insatisfeita. Vou me considerar gordinha, pra não dizer forte, porque ainda nutro um carinho por mim mesma e por considerar o termo “forte” muito forte e agressivo, apesar de me vestir melhor. Sim, porque infelizmente, sou daquelas mulheres que ao engordar vão tornando-se grandes pedaços de gente enorme. Meu rosto fica torneado por enormes bochechas, meu queixo cresce e forma par com uma papada monumental, meu nariz alarga e minha boca e olhos somem engolidos pelo resto. Meu corpo, bem, pra facilitar sua visualização, pode imaginar um grande escudo, largo e alto. Grandes coxas, grandes peitos, grande barriga e o pior...uma imensa bunda gigante e cheia, repleta de celulites por toda sua vasta extensão. Sim, meu leitores, viro uma jamanta.

E somado a isso tudo, meu mau humor e vontade de viver seguem o mesmo caminho, só em direções inversas. O mau humor cresce e a vontade de viver diminui.

Não pensem que estou com os olhos marejados e um vidro de comprimidos ao lado da mesa. Quando falo vontade de viver, falo da vontade de viver bem, contente, sorridente, educada e cidadã. Minha forma física me impele a um estado de irritação, intolerância, impaciência com velhinhos, reciclagem, sinais de trânsito, pivetes e tudo que cerca um cidadão em seu estado normal. Isso mesmo, viro uma megera.

Mas que pessoa fútil é esta que só por uns quilinhos a mais (Viva minha analista!) se desentende assim com tudo ao seu redor? Pra responder essa pergunta vou abusar de uma expressão comumente usada pra designar nossos atributos humanos.

Gente, eu sou única! E nesse human being aqui, cabem coisas demais. Cabem o amor pelo marido, pelas amigas, pelo pai, pela mãe, pela irmã, pelos animais, pelas criancinhas, cabem a alegria, a honestidade, a cidadania...cabem os sonhos, os gostos, os desejos...e um outro bocado de coisas não tão boas assim, como vocês já puderam comprovar.

O fato é que estou uma incrível hipopótama, com doze quilos de sobrepeso, pra chegar a um peso que ainda não é os tais “dez quilos a menos que sua altura”. Chegando aos 67 quilos, ainda manterei a bunda grande, as coxas grossas e as formas arredondadas. Mas não posso ser radical como aos quinze, porque tenho trinta anos e tenho obrigação de me aceitar. Um comportamento adulto afinal.

Após enfrentar uma reunião sofrida nos Vigilantes do Peso, hoje, pela manhã, fui ao supermercado e enchi a casa de coisas saudáveis. Já comi uma fruta, bebi bastante água, grelhadinho no almoço...por enquanto está tudo indo. Agora é ir, seguir pelo caminho que apesar de cheio de percalços, já me ajudou a emagrecer em outra ocasião. Mesmo tendo engordado tudo de novo e chegado até aqui. Como ouvi hoje em um programa de televisão: “É a esperança tentando vencer a experiência”.

P.S. A modelo da foto não sou eu. Ela parece feliz em sua condição.